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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Leilões virtuais testam sorte do cliente para obter grandes descontos

No leilão tradicional, quem não leva, não paga. Aqui é diferente: quem não leva também paga. É que para dar os lances, o internauta tem que comprar créditos no site. Essa é a fonte de receita da empresa.

Alan Severiano São Paulo, SP (JORNAL DA GLOBO/CONECTE)

Leilões virtuais testam sorte do cliente para obter grandes descontos

Em vez de levantar a mão, um clique no mouse. No lugar da tradicional martelada, um relógio virtual. Se os leilões de antigamente tinham lá seu charme, as versões virtuais são insuperáveis em popularidade.
“Televisões, videogame, tudo que aparecer na frente, eu tô disputando. É, não dá mais para parar não”. Faz apenas três meses que o administrador de ONG Tiago Ferreira da Silva foi apresentado aos leilões da internet, e já arrematou nove produtos. Home theater para a família, notebooks para a mulher e a sobrinha, cafeteiras, computador.
O Natal está garantido, e por uma pechincha! Ele pagou R$ 800 por mercadorias que, juntas, valem R$ 8.000. “Eu vi que o valor era bem menor que o do mercado e resolvi investir nisso e tentar ganhar tudo aquilo que eu tinha vontade de ganhar”, diz.
Mas qual é a mágica para tanta economia? “A mecânica desse negócio é assim: quando um produto chega a R$ 1, quer dizer que o site já lucrou R$ 100. Então não existe uma mágica, tudo é feito com transparência e realmente vai da sorte de cada um”, afirma Paulo Adriano Carvalho, diretor de prospecção da Martelo.com.
No leilão tradicional, quem não leva, não paga. Aqui é diferente: quem não leva também paga. É que para dar os lances, o internauta tem que comprar créditos no site. Essa é a fonte de receita da empresa.
Cada lance custa de R$ 0,50 a R$ 1. Os jogadores escolhem o produto desejado. Quando o leilão começa, um cronômetro regressivo, que normalmente inicia marcando 15 ou 30 segundos, é acionado.
Cada vez que alguém dá um lance, o valor da mercadoria sobe um centavo e o relógio volta a contar o tempo total. O vencedor é quem dá o último lance antes do relógio zerar. Os sites de leilão compram as mercadorias de redes de varejo, que entregam os produtos direto para o vencedor.
Além do que gastou no pacote de lances, quem ganha paga o preço final do leilão e o frete, que chega a custar 7% do valor de mercado do produto. “Na verdade, é uma mistura de entretenimento e compra, para ter a oportunidade de fazer bons negócios com desconto. Os produtos chegam a ter 90% de desconto”, diz Sidney Pedrotti, diretor de tecnologia do Martela.com.
O Brasil já tem mais de 30 páginas de leilão na internet. A inspiração foi um site alemão que abriu filiais em vários países. “Primeiro, as pessoas ficavam com um pé atrás, por ser um modelo revolucionário mesmo. Como é que é possível comprar um produto tão caro por um preço tão baixo?”, explica Sílvio Ávila, engenheiro e sócio do Olho no Click.
Sílvio e três amigos foram os pioneiros desse tipo de negócio por aqui. Em 2008, pediram demissão do trabalho e investiram R$ 500 mil para abrir o site, hoje líder de mercado.“O faturamento no ano passado foi de R$ 2 milhões e a nossa expectativa pra esse ano que está terminando é um faturamento de R$ 5 milhões. No ano que vem, a gente espera um crescimento de aproximadamente 100%”, diz Guilherme Pizzini, sócio do Olho no Click.
Em dois anos, a empresa acumulou 400 mil clientes e leiloou mais de 5 mil produtos, entre viagens, motos e eletrônicos. Alguns leilões duram poucos minutos, outros se arrastam por dias. A maior pechincha até agora foi um pacote de cinco noites na África do Sul por R$ 15.
O maior negócio ainda está em andamento: um apartamento em um prédio na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, avaliado em R$ 250 mil. A ideia foi de uma construtora que queria ter o gostinho de ser a primeira.
“Nossa intenção é divulgar a marca da nossa empresa e, com isso, se colocar como uma empresa de ponta, que está conectada no que está acontecendo no mercado”, afirma Marcelo Dadian, diretor de marketing da Construtora Rossi.
A publicitária Janaína de Souza está de olho nessa oferta, tentando quebrar uma sina. Há um ano e meio, ela participa dos leilões virtuais. Já gastou mais de R$ 500, mas até agora não ganhou nada. “Eu acho que minha estratégia está errada. Financeiramente não foi um bom negócio, mas a gente acaba se divertindo”, diz.
Como em cada leilão, muitas pessoas perdem dinheiro para um único internauta ganhar, os críticos comparam esse tipo de negócio a cassinos virtuais. As empresas discordam.
“Você pode definir uma estratégia para poder arrematar o produto, esse é o grande diferencial. O jogo é azar, você conta com a sorte. No leilão de centavos, você monta uma estratégia”, explica Pedrotti.
“O que a gente quer é um processo transparente, onde as pessoas entendam como funciona, participem e façam bons negócios”, completa Pizzini.
Estratégia, dinheiro e paciência são ingredientes para definir o vencedor. Mas Tiago, que já passou madrugadas em claro, diz que sorte também é fundamental. “Sorte de, na hora em que você está ali disputando, as outras milhares de pessoas, naquele momento, resolverem sair da frente do computador”, diz.
Um outro site, inaugurado há quatro meses, impôs limites. Cada jogador pode arrematar no máximo seis prêmios por mês. Disposta a brigar pela liderança, a empresa leiloou um carro semana passada, que foi arrematado por pouco mais de R$ 13 por um auxiliar administrativo de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Para afastar as desconfianças sofre fraudes, o site contratou uma auditoria que acompanha os leilões. “Você tem que mostrar essa credibilidade, que o produto tem procedência”, afirma Pedrotti.
Típico de um mercado novo, que arrebata milhares de aficionados a cada ano. Nenhum problema se o vencedor é você e, ainda por cima, coleciona vitórias.

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